A repolitização do serviço social: alguns argumentos para a intervenção em sociedades mais desiguais

AutorFernando Bessa Ribeiro; Francisco Xabier Aguiar Fernández
Páginas169-178
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A REPOLITIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL:
ALGUNS ARGUMENTOS PARA A INTERVENÇÃO EM
SOCIEDADES MAIS DESIGUAIS
FRANCISCO-XABIER AGUIAR FERNANDEZ
Depto. de Análise e Intervenção Psicosocioeducativa
Universidade de Vigo (Espanha)
Post-doutoramento Universidade do Minho (Portugal).
francisco.aguiar@uvigo.es
FERNANDO BESSA RIBEIRO
Depto. de Sociologia do Instituto de Ciências Sociais
Universidade do Minho
Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais Polo da Universidade do Minho
fbessa@ics.uminho.pt
1. INTRODUÇÃO
Entre 1820 e o final do século XX a diferença, medida em termos económicos e de bem-estar,
dos países mais ricos face aos mais pobres multiplicou-se de forma acentuada. A esta desigualdade
entre países há que considerar a desigualdade económica entre os indivíduos quando se toma como
referência um dado país. O trabalho de história económica de PIKETTY (2013) revela, na esteira de
outros, que a desigualdade voltou a patamares próximos daqueles que existiam em 1870, quando ela
era muito intensa. Notoriamente mais rico, o mundo é também mais desigual, tendo esta desigualdade
aumentado nos últimos quarenta anos.
Inevitavelmente, considerando este cenário, o serviço social e a ação dos seus profissionais
ocorrem em contextos sociais marcados por fortes desigualdades sociais. Daí que a discussão da ação
dos trabalhadores sociais não possa ignorá-las. Focalizando a atenção nas desigualdades económicas,
em especial as relacionadas com o rendimento e o património, a sua análise envolverá uma dimensão
histórica, procurando assim compreendê-las no quadro do desenvolvimento do capitalismo e das
políticas económicas e sociais implementadas pelo Estado. Realizada esta tarefa, o texto debruçar-se-
á sobre a posição teórica e política que deverá ser assumida pelos trabalhadores sociais críticos na sua
ação quotidiana, no relacionamento com os cidadãos em situação de privação económica ou outras
que exigem a mobilização das suas competências e dos recursos públicos.
2. A QUESTÃO DAS DESIGUALDADES SOCIAIS
Constatar que vivemos em sociedades muito desiguais é uma trivialidade, mas não deixa de ser
relevante em termos sociais e políticos. Por definição, a desigualdade é a qualidade do que não é igual,
referindo-se a algo que apresenta diferenças que, do ponto de vista social, podem constituir
discriminações ou desvantagens para um indivíduo ou grupos sociais. Assumindo múltiplas formas,
as desigualdades podem ser de género, raça/etnia, nacionalidade, etária, estatutária e de classe.
Embora não exclusivamente, esta última exprime as diferenças em termos de rendimento e
património, sendo uma desigualdade fundamental e estruturante nas sociedades capitalistas.
Seguindo as observações de WALLERSTEIN (1998), entre 1820 e o final do século XX a
diferença dos mais ricos face aos mais pobres multiplicou-se de forma acentuada; os países mais
pobres estão a um nível idêntico ao que estavam aqueles que se encontravam em igual situação em
1820. Embora existam algumas diferenças estatísticas, MADDISON (apud SILVA 2013: 156) aponta
no mesmo sentido, ao apresentar a evolução do rácio da desigualdade entre países ricos e países

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