Gestão social como ferramenta para o aprimoramento das instituições
Autor | Sérgio Gustavo de Mattos Pauseiro |
Páginas | 310-330 |
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GESTÃO SOCIAL COMO FERRAMENTA PARA
APRIMORAMENTO DAS INSTITUIÇÕES
SÉRGIO GUSTAVO DE MATTOS PAUSEIRO
1. INTRODUÇÃO
Adorno e Horkheimer explicam que o comportamento do homem nessa
fase da modernidade passou a ser controlado pelo aparelho econômico e moti-
vado por valores de consumo. Com isso indivíduo se torna o pior inimigo do
cidadão, ao passo que encontra alienado pelos valores de consumo e não parti-
cipa das tomadas de decisões da sociedade.
Guerreiro Ramos descreve a existência moderna do homem parentético,
cuja ação parentética é própria de um agente possuidor de uma ética de conduta
e de uma razão suprema, capaz de deliberar sobre inúmeras coisas. O homem
parentético vive numa sociedade multidimensional, onde ele deve considerar a
sua orientação pessoal e comunitária. Esse indivíduo é dotado de um senso crí-
tico apurado e só legitima processos decisórios onde ajuda construir as decisões.
Nesse contexto contemporâneo é cada vez mais complexo pensar estrate-
gicamente à gestão das instituições, privilegiando apenas o lucro e os interesses
pessoais. Por essa razão, a gestão social ganha terreno fértil para trabalhar quali-
tativamente a melhora das instituições no cumprimento das suas finalidades de
maneira democrática e amplamente participativa.
2. A GESTÃO SOCIAL E A CONSTITUIÇÃO
Adorno e Horkheimer ensinam que a libertação do pensamento religioso
através da ciência que gera um novo instrumento de dominação, pois no mundo
esclarecido, o caráter minucioso do controle outrora atribuído aos demônios,
agora se dá através da alienação dos homens, com base no consumo e no seu
ambiente de trabalho. O comportamento do homem é controlado através do
aparelho econômico, que agrega valores as mercadorias e definem o
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comportamento das massas. Inúmeras agências de produção e publicidade se es-
forçam para inculcar nos indivíduos os comportamentos como normais, como
únicos e naturais, descentes e racionais. Nas palavras de Adorno e Horkheimer:
[...] “a sociedade moderna possui uma superfície ilusória, sobre qual so-
brevém potencias que manipulam a violência. Da mesma forma o trabalho
social d o indivíduo está mediado pela economia. Com o burguê s liber-
tando os escravos e assalariando o trabalhador ele aumenta o mercado de
consumo, que depois restitui o seu capital aumentado. Isso força a aliena-
ção do indivíduo enquanto trabalhador, através d e processos modernos
refinados.” (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 35-36).
Nesse ponto, o progresso amaldiçoa o indivíduo que se esquece de si, que
se aliena ao pensamento do prazer. Com essa alienação o trabalho serve como
meio para que a pessoa possa acessar valores de consumo. Por isso a economia
burguesa força a alienação do indivíduo, sem a qual não seria possível a restitui-
ção do capital aumentado aos donos do meio de produção. O Estado Liberal
providencia através de leis que as regras do jogo burguês sejam seguidas, pois
terá o interesse na tributação do lucro excedente dos donos dos meios de produ-
ção. Para o pensamento esclarecido, as pessoas que seriam o sujeito transcenden-
tal do conhecimento são suprimidas na sua capacidade reflexiva e o trabalho se
torna num meio suave de controle.
Jürgen Habermas explica que a participação social em políticas públicas
não pode ser uma fachada, pois por trás dessa fachada se esconde os dominado-
res, que visam garantir os seus interesses. (HABERMAS, 2002, p. 134 ss.)
O filosofo alemão aposta na concepção de uma política deliberativa, o que
só ganha referência, quando fazemos jus à diversidade das formas comunicativas
na qual se constitui o auto entendimento de cada cidadão na construção de valo-
res de caráter ético, mas também buscando um equilíbrio entre os interesses di-
vergentes e do estabelecimento de acordos, na preocupação com a coerência ju-
rídica, de uma escolha de instrumentos racionais e voltada a um fim específico e
por meio, enfim, de uma fundamentação moral (HABERMAS, 2002, p. 277).
Esse modelo de democracia sugerido por Jürgen Habermas, baseia-se nas
condições de comunicação sob os quais o processo político supõe-se capaz de
alcançar resultados racionais, justamente por cumprir-se de modo deliberativo
(HABERMAS, 2002, p. 277).
A cultura política de um país cristaliza-se em torno da constituição em
vigor. Trata-se de um processo histórico, que se amolda em cada caso a um tipo
de leitura diferente através: da soberania do povo, do entendimento mútuo e a
consequente ampliação dos direitos fundamentais, os quais se corporificam em
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